sábado, 24 de novembro de 2012

Falta identidade cultural à arte brasileira, afirma Lygia Eluf no Aulas Magistrais





Lygia Arcuri ElufA arte brasileira sofre de movimentos cíclicos e carece de identidade cultural. “É um desastre. Mas um desastre ingênuo e bem intencionado”, sentencia Lygia Arcuri Eluf, pintora, artista plástica e docente do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Falando como convidada do Projeto Aulas Magistrais, organizado pela Pró-reitoria de Graduação, Eluf traçou um panorama da arte brasileira, numa espécie de “zigue-zague entre a claridade e escuridão”, como ela mesma definiu.
Para traçar o panorama, Eluf fez uma apresentação audiovisual no que chamou de três atos: modernidade problemática (1920-1950), concreto e a construção (1950-1970) e exercício de liberdade (1970-2000). “A escolha de artistas e obras para este panorama é absolutamente afetiva”, avisou. “Outra escolha foi falar de paisagem e cor. Eu precisava de alguns eixos estruturais e achei que esse seria o melhor caminho”, completou.
De acordo com ela, os movimentos “quase cíclicos” vão se completando e sendo renovados ao longo da história da arte brasileira. “Esses movimentos chegam num ápice, que pode ser significativo em termos de artes. Mas eles rapidamente se perdem e acabam-se criando hiatos. E aí os ‘cantos das sereias’ são muitos e as pessoas se perdem e acabam fazendo uma grande confusão. Estamos vivendo, hoje, um reflexo desses movimentos cíclicos. Não temos uma base sólida cultural, como na Europa, por exemplo”, justifica.
A busca por qualquer movimento de identidade recaí, quase sempre, em um nacionalismo artificial, afirma Eluf. “Falta identidade cultural, mas com o que temos de cultura mesmo. Não adianta querer ser nacionalista, isso é uma bobagem. Você falar: 'não, então, tudo bem, eu pinto de verde e amarelo e resolvo o problema'. Não é assim. A produção artística brasileira deveria, de algum modo, dar conta de dialogar com todo o público. E isso não acontece. O mais comum hoje em dia é as pessoas entrarem em museus e galerias e saírem mais desentendidas ainda”, critica.
Eluf explica que nos anos de 1950 as primeiras bienais de arte começaram a chegar ao Brasil, trazendo novidades de fora. Na época, diz ela, o país absorvia as novidades sem a experiência usada pelos artistas estrangeiros para construir tal obra. “Atualmente, vivemos o mesmo problema e não por causa das bienais, mas por conta dessa massificação de cultura do planeta. Pegamos tudo que vem do mundo, só que sem a base sólida que eles tiveram para construir aquilo. Corremos riscos de estar fabricando arte sem o compromisso de continuidade de uma construção cultural, mas sim vinculada à cultura de massa e mercado”, compara.

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