sábado, 24 de novembro de 2012

Artista Adriana Varejão lançará série de tintas com as cores dos brasileiros


Criadora das novas Tintas Polvo também está com exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo

Tintas da artista representam tons de pele dos brasileiros. Foto: Daryan Dornelles/ Divulgação
Tintas da artista representam tons de pele dos brasileiros. Foto: Daryan Dornelles/ Divulgação
 
Adriana Varejão conta que sempre teve dificuldade de encontrar tintas que retratassem com exatidão os tons da pele humana. Sobretudo, que espelhassem a miscigenação dos brasileiros. O jeito foi misturar vários tons de tinta, mas a dificuldade está prestes a ser resolvida. Ano que vem, ela lança a série Tintas Polvo.

Com edição limitada, o estojo traz tintas criadas pela própria artista. As cores se inspiram nas várias tonalidades de pele do brasileiro. “Baseei-me numa tabela de cores dos anos 1970, quando as pessoas se autoplastificavam. Vou fabricar o estojo em parceria com o pessoal das Tintas Tigre. Elas terão nomes sugestivos, como Morena Faceira e Branca Melada. Vou comercializá-las em forma de múltiplos”. Mas atenção: o preço será de obra de arte, avisa a pintora. Ou seja, para poucos.

Consagração

Por acaso, a pintora Adriana Varejão acrescentou um capítulo emblemático à história das artes visuais brasileiras. No início da década de 1990, quando produzia a famosa série inspirada na iconografia dos azulejos, ela sentiu necessidade de romper com a forma convencional das telas. “Sempre associei azulejaria à segunda pele dos edifícios”, lembra. Adriana decidiu cortar a camada superficial do quadro para revelar o que, em sua imaginação, poderia estar lá dentro. Aquele gesto, além de torná-la conhecida internacionalmente, abriu-lhe caminho para ser a artista brasileira viva mais valorizada do momento.

Mal comparando, Adriana continua sem o menor pudor para, simbolicamente, “meter a mão” na massa. Com isso, produz obras de impacto. Imagine entrar numa sala e se deparar com a enorme tela de azulejos verdes que parece explodir na parede, revelando vísceras hiper-realistas. A repulsa inicial a Azulejaria verde em carne viva, porém, logo cede lugar à curiosidade sobre a plasticidade e procedimentos técnicos envolvidos em sua criação – meio escultura, meio pintura.

Adriana conta que tanto a parte escultórica quanto a pictórica foram feitas por suas próprias mãos, sem o auxílio de moldes. A obra é um dos destaques da exposição Histórias às margens (Grande Sala), em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), na capital paulista. A panorâmica reúne 42 trabalhos produzidos desde 1991 – metade deles, inédita. Estão lá autorretratos (o fio condutor do projeto) e criações que, mesmo conhecidas por meio de fotos ou livros, causam impacto quando observadas ao vivo.

A seleção foi cuidadosamente planejada. Adriana quis reunir exemplos das séries Proposta para uma catequeseAcadêmicosIrezumisLínguas e incisõesRuínas de charqueMares e azulejosSaunas,Pratos e Terra incógnita. Todas evidenciam referências caras a ela – a forte ligação com a história da arte, com as iconografias religiosa e chinesa, a paixão por azulejaria e pela cerâmica, além do gosto por imagens produzidas por viajantes europeus. Também estão lá a arte acadêmica do século 19, a geometrização dos espaços arquitetônicos, paisagens, marinhas e mapas.

Ao dialogar com aspectos tão distintos, estabelecendo leitura pessoal e contemporânea desses temas, a artista carioca conseguiu consolidar sua produção. Foi questão de tempo ganhar o mundo e vender trabalhos por cifras milionárias. Assim como a colega Beatriz Milhazes, Adriana é responsável pela valorização internacional da arte brasileira.

Quando Adriana rasgou os próprios quadros para oferecer sua visão visceral – como carne viva – da arte e da vida, ela instigou, elevando a linguagem contemporânea a patamares incomuns. Essa obra inquietante surgiu quando se discutiam a “morte da pintura” e o esgotamento do estilo. A pintora brasileira veio sepultar de vez aquele discurso vazio.

Foi em Minas – mais precisamente, numa viagem a Ouro Preto, em 1986 – que Adriana teve o primeiro contato com o barroco. “Demorei muito tempo na cidade e também fui a Mariana. Os temas presentes ao barroco e os diálogos com a iconografia chinesa me influenciaram, principalmente nos momentos iniciais”, conta ela. “Hoje, estou mais voltada para o mar”, revela, referindo-se a suas pesquisas imagéticas sobre a Baía de Guanabara.

O conjunto mais representativo da obra da artista carioca está em Minas, em pavilhão especialmente criado para ela no Instituto Inhotim, em Brumadinho. Coube a um parceiro de longa data, o arquiteto paulista Rodrigo Cerviño Lopez, projetar o edifício para abrigar obras em grandes formatos, comoCelacanto provoca maremoto (2004/2008), Linda do rosário (2004), O colecionador (2008) e Panacea phantastica (2003-2008). Trabalhos dela também estão expostos no Museu Guggenheim (Nova York), na Tate Modern (Londres) e na Fundación La Caixa (Barcelona).

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